CONSTRUINDO UMA ECONOMIA DE PARTILHA: O CAMINHO PARA O SUCESSO DA AGRICULTURA

Num mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo (também conhecido como VUCA em Inglês), onde a próxima reviravolta é tão imprevisível quanto a direção do vento ou o aparecimento de uma nova ameaça, será que a economia da partilha tem a chave não apenas para sobreviver, mas para prosperar face ao imprevisível? Temos “a burra nas couves”

Os olivicultores, os agricultores e os empresários enfrentam atualmente desafios à escala planetária que merecem a melhor atenção de todos.

Povoamos um planeta confrontado com alterações climáticas com consequências imprevistas para a humanidade em crescimento demográfico exponencial e que segundo relatório das Nações Unidas atingirá 9,7 bilhões de pessoas em 2050. Porém, a falta mão­-de-obra qualificada e/ou indiferenciada faz tremer muitos negócios.

A pandemia global, a recuperação desigual desta e as guerras estrangulam as econo­mias mundiais e locais e contribuem para que mais de 122 milhões de pessoas sejam empurradas para a fome numa média total de 735 milhões segundo a ONU.

Para além dos alimentos, a escassez de água é real e dramática em algumas partes do globo.

Apren­demos com especialistas na Agri Conferences 2023, em Lisboa, que segundo a Organização das Nações Unidas, para Alimentação e Agricultura (FAO), mais de 30% de todos os alimentos produzidos para con­sumo humano são desperdiçados ou vão para o lixo globalmente. Estes, por via da sua decomposição contribuem em 10% para a totalidade de emissões de gases de estufa produzidos pelo homem, alimen­tando por sua vez, as diversas alterações climáticas.

Através da Organização Mundial de Saúde percebe­mos que a obesidade triplicou desde 1975 e que a maioria da população mundial vive em países onde o excesso de peso e obesidade mata mais pessoas do que a subnutrição. O World Obesity Atlas 2023 regista 2,6 bilhões de pessoas obesas em 2020 e estima que em 2035 tal represente 50% da população mundial.

Estamos aos poucos a construir um mundo estranho, onde o desequilíbrio entre a abundância e a escassez é alarmante.

O que fazer?

Precisamos de agir.

Será afinal escassez, abundância ou falta de melhor gestão?

Precisamos de investir fortemente e com determi­nação numa economia de partilha.

Uma economia colaborativa baseada na partilha de recursos, servi­ços, informação, conhecimento e habilidades entre indivíduos, empresas e comunidades.

É essencial acreditar e investir em melhores formas de trabalhar, com capacidade de utilizar mais eficientemente os recursos disponíveis, reduzir o desperdício e promo­ver a sustentabilidade.

É vital tirarmos partido daquilo que nos distingue e nos destaca como espécie e colaborarmos em larga escala e de forma flexível, o que historicamente se comprovou ser fundamen­tal para lidar com desafios variados e em constante mudança. Só com um propósito único e em estreita colaboração e partilha, se conseguem criar oásis em desertos como se conquistam com a água e com a agricultura em Israel, por exemplo. Acreditamos que esse é também o papel da Olivum como Associação de Olivicultores e Lagares de Portugal que procura ser um pólo de união dos Olivicultores, contribuindo para um setor forte.

A tecnologia é óptima, mas as nossas maiores invenções são as inovações sociais.

Hoje, provavelmente acordou e verificou as mensa­gens no seu smartphone. Esse simples acto depende de inúmeras invenções tecnológicas, inventadas e produzidas por milhares de pessoas que desconhece mas em que confia.

Claramente, os seres humanos adoram inovar.

Mas, considere este exemplo: a mala com rodinhas não foi inventada até 1970. Então, como é que uma espécie que adora inventar, demora tanto para imaginar um dispositivo tão obviamente útil? Bem, em vez de depender de uma invenção técnica, como colocar rodas na bagagem, a maioria das pessoas encontrou uma solução social para trans­portar as suas pesadas bagagens pelo aeroporto. Eles pagaram a pessoas para carregar as suas malas.

Então, qual é a diferença entre inovação técnica e social?

Bem, para começar, uma inovação técnica geral­mente significa construir ou modificar uma ferramenta física para realizar um novo propósito. A inovação social alavanca relacionamentos sociais para resolver um problema de uma nova maneira.

Por exemplo, dividir o trabalho para construir ferramentas de forma mais eficiente – isso é uma inovação social. Atribuir um valor arbitrário a pedaços de papel e usá-los como dinheiro – isso também é uma inovação social. Trata-se de uma história inventada pela humanidade que só perdura graças à forte confiança de todos. Até mesmo o conceito de ficar em fila e esperar pela sua vez, é uma inovação social.

Na realidade, a história demonstra que só procu­ramos soluções técnicas quando a nossa rede social falhou.

Acreditamos que a transição para uma mentali­dade de “jogo infinito” é um factor crítico para pro­mover cooperação, inovação e sustentabilidade a longo prazo, em contraste com uma mentalidade de “jogo finito” baseada em competição e ganhos imediatos. Nesta volatilidade, incerteza, complexi­dade e ambiguidade o que faz mais sentido: ganhar ou sobreviver? menores preços ou mais garantias? comprar máquinas que desvalorizam ou terrenos que valorizam?

O que seria a Olivicultura em Portugal sem a bar­ragem do Alqueva e sem a gestão especializada das respectivas infraestruturas pela EDIA?

Quais os benefícios da partilha de recursos na agri­cultura?

  1. Redução de custos: Partilhar recursos como infraestruturas associadas à água, máquinas, ferra­mentas e mão-de-obra pode reduzir os custos ope­racionais para os agricultores, permitindo o acesso a soluções especializadas de forma flexível, sem neces­sidade de adquiri-las individualmente e sem precisar de se endividar.
  2. Aumento da eficiência: A partilha de recursos pode aumentar a eficiência operacional, permitindo que os agricultores realizem tarefas mais rapidamente e com maior qualidade, resultando assim numa pro­dução mais eficiente.
  3. Acesso a tecnologia avançada: Partilhar recursos pode proporcionar acesso a tecnologias avançadas e inovações, que um agricultor individual pode não ser capaz de adquirir, ajudando a melhorar a produ­tividade e a qualidade dos produtos.
  4. Fortalecimento da comunidade agrícola: A par­tilha de recursos promove a cooperação e o apoio mútuo entre os agricultores, fortalecendo a comuni­dade agrícola e criando um ambiente de colabora­ção, que promove o sector como um todo e a marca Portugal no Mundo.
  5. Redução do impacto ambiental: Ao partilhar recursos, os agricultores podem reduzir o desperdí­cio e o uso excessivo de máquinas, contribuindo para práticas agrícolas mais sustentáveis e para a redução do impacto ambiental.

Leia também o artigo O Papel do aluguer na sustentabilidade agrícola

Ao adotar essa abordagem, esperamos promover um ambiente de partilha que beneficie a todos os envolvidos no setor olivícola, fortalecendo a comu­nidade e impulsionando o sucesso a longo prazo.

No contexto desafiador em que vivemos, é funda­mental adotar uma abordagem inovadora e colabo­rativa.

Este artigo propõe-se a convidá-lo a participar activamente na construção de uma economia de par­tilha e colaborativa.

Estamos metidos num “molho de brócolos” e agora, mais do que nunca, precisamos de todos.

Consideramos factores críticos de sucesso o foco de cada um nas suas actividades principais e passar­mos do paradigma da posse para o da partilha de recursos em redes profissionais de confiança, fortes e sustentáveis. Mais do que cada um fazer tudo, preci­samos de nos especializar, colaborar e agir multidisci­plinarmente com uma resposta mais ágil e produtiva na construção de um Futuro mais Verde.

 

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